Triângulo Dramático
- Ana Carolina Mainetti

- há 1 dia
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Atualizado: há 9 horas
O Triângulo Dramático, também conhecido por Triângulo do Drama de Karpman, é composto por três papéis destrutivos e mutáveis que as pessoas desempenham em relações conflituosas: Vítima, Salvador e Perseguidor.
Ao assumir qualquer um desses papéis, os relacionamentos ficam marcados por comportamentos prejudicialmente complementares. Reconhecer esses papéis e como eles se manifestam é essencial para a libertação do ciclo do drama.

Origem do Triângulo Dramático
O Triângulo Dramático foi citado pela primeira vez em um artigo publicado pelo médico, professor e psicoterapeuta norte-americano Stephen B. Karpman, na década de 60.
Ele descreveu que o modelo de interação comumente visto em dramas de conto de fadas e filmes ocorre também em situações de conflito na vida real. As pessoas representam inconscientemente os papéis de Vítima, Salvador e Perseguidor de forma alternada, perpetuando um ciclo de drama e insatisfação em suas vidas.

Embora seja o papel mais poderoso, a vítima é retratada na parte de baixo do triângulo invertido pela aparente situação de inferioridade em relação aos outros dois papeis supostamente superiores e bem resolvidos: salvador e perseguidor.
Triângulo Dramático e os 3 papéis
Os participantes de um conflito geralmente tendem a ter um papel predominante: vítima, salvador ou perseguidor. O triângulo dramático inicia com uma pessoa assumindo o papel de vítima ou de vilão (perseguidor), convocando os outros papéis para entrarem no conflito.
Durante o embate onde um é o vilão e o outro é a vítima, um salvador é encorajado a entrar no drama para salvar a vítima, completando os 3 papéis.
Esses papéis não são fixos e, por isso, diversos desdobramentos são possíveis. A vítima, por exemplo, pode se virar contra o salvador, fazendo com que ele assuma a posição de vilão (perseguidor).
Embora, inicialmente, pareça que o drama necessite de três participantes, apenas duas pessoas são suficientes. Isso se deve ao fato de que os papéis se revezam, sendo necessário apenas que as duplas vítima-perseguidor ou vítima-salvador estejam ativas, e não a presença dos três ao mesmo tempo.
O papel da vítima no Triângulo Dramático
O papel da vítima é caracterizado por uma postura de "Coitada de mim!", onde a pessoa atribui a responsabilidade pela sua situação a fatores externos, transformando pessoas ou circunstâncias em um vilão (perseguidor).
Sentindo-se oprimida, desamparada e impotente, a vítima manifesta incapacidade de tomar decisões ou resolver problemas. Essa postura evita mudanças reais e o confronto com os próprios problemas, proporcionando um conforto temporário ao esquivar-se de responsabilidades.
Para sustentar esse estado, a vítima busca um salvador, que, ao tentar ajudar, perpetua a sensação de desamparo e a dependência da vítima. Essa dinâmica além de sobrecarregar o salvador, pode alimentar nele uma posição de superioridade.
Uma pessoa no papel de vítima, durante um conflito, pode não chamar a atenção para a manipulação emocional exercida para obter apoio e facilitações.
A permanência no papel de vítima não é saudável, afeta negativamente a autoeficácia, limitando o crescimento pessoal e a capacidade de enfrentar desafios de forma assertiva e independente.
O papel do salvador no Triângulo Dramático
No Triângulo Dramático, o salvador é aquele que atua em resposta à fragilidade da vítima, incorporando a postura de "Eu posso ajudar!". Tenta reparar o conflito, sendo prestativo, consertando ela ou a situação, muitas vezes assumindo responsabilidades que não são suas. Pensa estar ajudando, mas, involuntariamente, está adicionando energia ao drama.
Impulsionado pela necessidade de se sentir útil, necessário, importante e valorizado como "herói", o salvador liga sua autoestima à capacidade de resgatar os outros. No entanto, essa dinâmica é codependente e tóxica. O ato de salvar, na verdade, mantém a vítima dependente e incapaz de enfrentar as consequências de suas escolhas, perpetuando o ciclo de vitimização.
Embora suas ações pareçam nobres e altruístas, o salvador frequentemente busca recompensas veladas como reconhecimento, elogios, subserviência da vítima ou outros benefícios.
O interesse primordial do salvador não está apenas em ajudar, mas também em evitar seus próprios problemas. Ao focar a energia na vítima, ele desvia a atenção de si.
O papel do perseguidor no Triângulo Dramático
O perseguidor, também conhecido como vilão, se manifesta no Triângulo Dramático com falas, como: "A culpa é sua!", assumindo uma conduta controladora, rígida e de superioridade.
Ele é o crítico e culpabilizador que atribui à vítima a responsabilidade pela situação. Menospreza-a, fazendo-a sentir-se inútil, envergonhada, inadequada e vítima de acusações e tratamento injustos.
Sua motivação oculta é a negação da própria insegurança. Ao culpar o outro, o perseguidor evita confrontar seus problemas internos e sua necessidade de mudança.
O ciclo do drama no Triângulo Dramático
A dinâmica no Triângulo Dramático é extremamente variável e leva à alternância de papéis, como nos exemplos a seguir:
O salvador pode ficar furioso quando sua ajuda não alcança a mudança imaginada na vítima e passar a cobrá-la e acusá-la, ocupando o papel de perseguidor.
A vítima oprimida pode reagir ou se vingar e assumir a posição de perseguidor.
O perseguidor, ao perceber seu comportamento autoritário, pode sentir culpa e se vitimizar.
O salvador quando não se sente devidamente valorizado ou recompensado pelo seu esforço em salvar a vítima, pode se vitimizar.
O perseguidor pode tentar reverter seu mau comportamento encontrando um meio para se vitimizar e suavizar seus atos.
No cerne dessa dinâmica disfuncional, cada participante satisfaz necessidades egoístas e inconscientes, mantendo o ciclo do drama em vez de buscar uma solução madura e resolutiva. Essa "recompensa" psicológica impede que os envolvidos reconheçam o dano causado pela situação.
O Triângulo Dramático nos Transtornos da Personalidade
A manifestação dos papéis do Triângulo Dramático de Karpman está fortemente ligada a características centrais de alguns Transtornos da Personalidade.
1.Transtorno da Personalidade Borderline
Uma pessoa com Transtorno da Personalidade Borderline frequentemente alterna rapidamente entre os três papéis devido à instabilidade afetiva.
Em um momento, se apresenta como uma vítima desamparada, incapaz ou sob risco de vida. Em seguida, pode ter uma reação extrema e se tornar o perseguidor raivoso e acusatório. E depois, assumir o papel de salvador que tenta desesperadamente consertar a situação para evitar a solidão e o abandono.
Além disso, por alternar entre idealização e desvalorização, pode idealizar a outra pessoa como o salvador perfeito e, rapidamente, desvalorizá-la e colocá-la no papel de perseguidor quando não atende às expectativas.
2.Transtorno da Personalidade Narcisista
A postura mais comum da pessoa com Transtorno da Personalidade Narcisista é a de perseguidor. Por sentir-se superior, é crítico e exigente, mantendo a vítima em uma posição inferior para afirmar seu próprio poder ou perfeição.
Também pode adotar o papel de salvador para buscar admiração, validação e bajulação. Sentindo-se o "único" capaz de ajudar, alimenta sua grandiosidade.
O papel de vítima pode ser usado para obter a simpatia, desviar a culpa ou fugir da responsabilidade.
3.Transtorno da Personalidade Dependente
A necessidade excessiva de ser cuidado e a dificuldade em tomar decisões faz com que a pessoa com Transtorno da Personalidade Dependente se ancore no papel de vítima, buscando e mantendo um salvador. Isso permite que ela evite responsabilidades e reforce a crença de ser incapaz de funcionar sozinha.
4.Transtorno da Personalidade Antissocial
Quem apresenta o Transtorno da Personalidade Antissocial tende a ocupar o papel de perseguidor de forma crônica por ser controlador, agressivo e crítico. Ele insiste que "É tudo culpa sua" e atribui a responsabilidade de seus próprios atos aos outros.
Pode encenar os outros dois papéis, não por uma necessidade emocional autêntica, mas como uma estratégia manipulativa para atingir seus objetivos.
Pode usar a máscara de vítima para desviar a culpa ou para atrair um salvador com o intuito obter algum recurso ou para evitar consequências.
Também pode se posicionar como salvador para ganhar a confiança de alguém ou para se colocar em uma posição de poder sobre a vítima. Ao "ajudar", ele cria uma dívida emocional ou dependência, que será explorada mais tarde.
Como desmanchar o Triângulo Dramático
Todos os três papéis (perseguidor, salvador e vítima) têm suas raízes em uma mentalidade orientada para problemas, padrões reativos e relações dramáticas em vez de soluções, padrões proativos e conexões sadias.
O autor norte-americano David Emerald, através da metodologia TED: The Empowerment Dynamic, criou um "antídoto" alternativo ao Triângulo Dramático através de papéis mais empoderadores:
Criador: é a resposta positiva ao papel de Vítima. Em vez de se sentir impotente e paralisado, ele adota uma mentalidade proativa, transformando problemas em desafios e oportunidades para o crescimento. Seu foco é encontrar soluções criativas, recusando-se a lamentar-se, transferir responsabilidades ou esperar que o Salvador resolva seus problemas.
Desafiador: é o papel positivo no lugar do Perseguidor. Longe de ser crítico ou impositivo, se dedica a instigar a pessoa (anteriormente a Vítima) e a si mesmo a superar os obstáculos, com respeito e sem recorrer à humilhação ou à culpabilização. Proporciona insights construtivos que estimulam a ação e não o drama.
Treinador: é alternativa saudável ao Salvador. Ele transforma sua vontade de ajudar em escuta profunda para apoiar o Criador na descoberta do que é melhor para ele, sem dar o caminho pronto e sem solucionar as coisas como fazia com a Vítima.
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Psicóloga Ana Carolina Mainetti
CRP 08/17342






